O Legado de Horácio de Almeida

Por José Tavares de Araújo Neto

Nascido em Areia, Paraíba, em 21 de outubro de 1896, Horácio de Almeida foi um dos mais prolíficos intelectuais de seu estado. Filho de Rufino Augusto de Almeida e Adelaide Jocunda de Almeida, iniciou seus estudos na cidade natal, no engenho de seu pai, e mais tarde se preparou no Lyceu Paraibano para ingressar na faculdade. Em 1930, bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Recife e retornou à Paraíba, onde começou sua carreira como Juiz Eleitoral e, posteriormente, como Secretário do Interior e Justiça. Como advogado, ele exerceu a profissão com sucesso de 1931 a 1945, notabilizando-se por sua combatividade.

Em 1946, Horácio de Almeida mudou-se para o Rio de Janeiro. A mudança, cercada de polêmicas, foi motivada por uma desavença política com seu primo, José Américo de Almeida, que resultou na queda de um governo nos anos 1940. Apesar da distância, ele manteve sua forte ligação com a Paraíba, atuando como um intelectual e homem público sempre voltado para a intervenção direta ou indireta nos cenários político, social e cultural de seu estado. No Rio de Janeiro, inseriu-se em círculos culturais que contavam com a presença de intelectuais de renome, como Carlos Drummond de Andrade, e participou dos famosos “sabadoyles” na casa de Plínio Doyle.

Horácio de Almeida foi um historiador que se dedicou à construção da história e da identidade paraibana, uma preocupação que ele chamava de “paraibanidade”. Ele acreditava que a história do estado deveria ser preenchida com acontecimentos e personagens singulares ao seu espaço. Sua escrita histórica, influenciada por uma metodologia positivista, buscava dar a impressão de uma visão panorâmica, acumulando fatos e datas para apresentar um passado único, com heróis que serviriam de exemplo.

Dentre suas principais obras destacam-se:

Brejo de Areia (1958): Obra que, segundo o documento, o consolidou no espaço dos escritores do passado brasileiro, sendo publicada na coleção Vida Brasileira. A obra é descrita como um relato sobre o espaço que foi lugar de memória e história para o autor, na dimensão do coletivo e do individual, do objetivo e do subjetivo.

História da Paraíba (1966 e 1978): Obra que ele considerava a “verdadeira” história da Paraíba, na qual ele buscava corrigir datas, nomes e personagens que, segundo ele, haviam sido desvalorizados ou esquecidos.

Além de sua produção historiográfica, Horácio de Almeida foi um intelectual multifacetado e polêmico. Ele publicou biografias de personalidades como Pedro Américo (1943) e Augusto dos Anjos (1962), e se manteve atuante até o início dos anos 1980, quando publicou os dicionários Dicionário Erótico da Língua Portuguesa (1980) e Dicionário Popular Paraibano (1979). Ele também teve um papel crucial ao propor a criação de uma comissão para as comemorações do 4º Centenário da Paraíba, em 1985.

Horácio de Almeida foi membro da Academia Fluminense de Letras, da Academia Carioca de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, além de ter sido um dos fundadores da Academia Paraibana de Letras. Ele faleceu no Rio de Janeiro em 5 de junho de 1983.

Sua obra, que esteve sempre voltada para a história e a identidade paraibana, continua a ser relevante, tanto que o governo do estado anunciou, em 2015, a reedição de algumas de suas obras. Conforme o pesquisador Waldemar Duarte, Almeida era um homem de convicção e personalidade, afeito a polêmicas e discussões em defesa de seus princípios

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